quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Especialistas em opinião publicável

* Fabricio Rebelo

Em recente entrevista à Rádio CBN, o prefeito de São Paulo, João Dória, teceu dura crítica ao espaço dado na grande mídia a ditos “especialistas” nas mais variadas áreas de conhecimento, cujas declarações acabam se traduzindo, não como análise técnica, mas mero  alinhamento ao viés ideológico buscado pelo veículo que as publica – não raro com  puro propósito crítico. “Não se pode é escolher o especialista”, afirmou o prefeito em tom mais enérgico, para reprovar a conduta de se buscar uma opinião que ratifique uma conclusão previamente definida, ao invés de somente formar qualquer convencimento após ouvir o que se dispõe em concreto sobre o assunto. E ele está coberto de razão.

A indignação externada por Doria, embora com roupagem nova, é bem conhecida por quem se dedica a estudos aprofundados na área de segurança pública do país. Por mais comprovada que seja uma tese, mais sólido que se revele um levantamento, eles nunca alcançam significativo espaço se não estiverem rigorosamente em compasso com algo que se convencionou chamar de “linha editorial” dos veículos de imprensa. E essa linha, na grande mídia, é invariavelmente a politicamente correta ou a progressista.

Ao se falar na postura diante de um assalto, é preciso dizer que não se deve reagir, mesmo que isso seja algo tecnicamente absurdo para qualquer pessoa que passe um pouco da superfície nesse tema. Para se defender, há de se afirmar fervorosamente que armas não funcionam, ainda que a mera lógica do mundo ao redor prove exatamente o contrário. As prisões, também nessa cartilha, não servem para proteger a sociedade, mas para recuperar o preso, que é tratado como incompreendida vítima de um perverso sistema social. É isso que se quer ouvir, não importando se é verdade ou não – e nesses casos não é, nem de longe.

Por conta dessa postura, permitiu-se a criação de verdadeiros dogmas, repetidos como mantras pelos tais especialistas em segurança, mas que simplesmente não funcionam. Isso, aliás, torna intrigante o fato de continuarem tendo espaço. Nada do que afirmam produz o efeito que defendem, adota-se a fórmula que pregam há anos e os indicadores criminais só pioram, mas continuam sendo sempre eles os convidados a falar ao grande público.

Não há busca por promover debates, fomentar reflexões ou sequer avaliar com técnica ações cotidianas. O importante é só ter alguém “de fora” para afirmar com tom de propriedade aquilo que não passa da opinião própria de uma imprensa parcial.

Os que a isso se prestam são especialistas, sim, mas apenas em opiniões publicáveis. Indivíduos que dão voz a pensamentos alheios, em troca de alguns (ou muitos) instantes de exibição, quase sempre bem aproveitados em benefício próprio. A quem consome informação, resta se especializar em identificá-los e apenas desprezar o que dizem. Afinal, ninguém deve se espelhar justamente no que vem dando errado.

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Texto elaborado para a coluna do autor no portal F5 Notícias.

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